O massacre de 132x: a invasão do móvel chinês no Brasil
A indústria de móveis brasileira sempre foi um dos nossos grandes orgulhos. Com a riqueza de nossas madeiras, a criatividade dos nossos designers e uma forte tradição de marcenaria, por anos nos acostumamos a ver o “Made in Brazil” como um selo de qualidade, competindo de igual para igual no mercado global.
Mas um alerta vermelho, o mais grave dos últimos cinco anos, acaba de soar. Os números da balança comercial do primeiro semestre de 2025 foram fechados e revelam uma virada histórica e preocupante: pela primeira vez em meia década, o Brasil está importando mais móveis do que consegue exportar.
Por trás dessa estatística fria, no entanto, esconde-se uma guerra comercial brutalmente desigual, uma invasão silenciosa dominada por uma única superpotência asiática. Os dados revelam um verdadeiro massacre, uma proporção tão absurda que parece um erro de digitação.
A anatomia do déficit: os números que acenderam o alerta
O sinal de perigo está claro nos dados oficiais. No primeiro semestre de 2025, a indústria moveleira brasileira registrou um déficit comercial de US$ 14,1 milhões. Isso significa que o valor dos móveis que compramos de outros países superou, e muito, o valor dos móveis que vendemos para eles.
- Importações (O que compramos): Somaram US$ 452,2 milhões, um aumento de 9,5% em relação ao ano anterior.
- Exportações (O que vendemos): Alcançaram US$ 438,1 milhões, com um crescimento bem menor, de apenas 6,1%.
Essa inversão, que não acontecia desde antes da pandemia, mostra que os móveis estrangeiros estão ganhando a preferência – e o dinheiro – do consumidor brasileiro em um ritmo acelerado, enquanto nossos produtos perdem espaço lá fora.
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O dragão na sala: a avassaladora presença da China
Quando se investiga de onde vêm esses móveis, um único país aparece como o protagonista absoluto desta invasão: a China.
- Recorde Histórico: A importação de móveis chineses no Brasil atingiu a marca recorde de US$ 199,7 milhões apenas nos primeiros seis meses de 2025.
- Domínio de Mercado: A participação da China no total de móveis que o Brasil importa deu um salto dramático. Na década de 2006 a 2015, a média era de 23,7%. Na última década, essa fatia explodiu para 38,8%. Quase 40% de todo móvel importado que entra no país vem da China.
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O número do massacre: a proporção de 132 para 1
Mas o dado mais chocante, que revela a dimensão do massacre comercial, é a comparação direta do que compramos e do que vendemos para eles.
Na última década (2016 a 2025), o Brasil:
- Vendeu para a China: US$ 10,5 milhões em móveis.
- Comprou da China: US$ 1,39 BILHÃO em móveis.
A proporção é avassaladora: para cada 1 real que a China comprou em móveis brasileiros, nós compramos 132 reais em móveis chineses.
Essa invasão, impulsionada por preços extremamente competitivos, já está presente na casa de milhões de brasileiros e representa um desafio gigantesco para a sobrevivência e o crescimento da indústria nacional, levantando um debate crucial sobre o futuro dos empregos e do design “Made in Brazil”.